sexta-feira, 28 de junho de 2013

Faro - Recordações de um passado longínquio - A estrutura social da cidade


Faro - Recordações de um passado longínquo (continuação)


d) Estrutura social da cidade

Depois destas recordações dos factos geográficos citados, debrucemo-nos sobre a estrutura social e sobre a actividade funcional da cidade. No decurso dos oitenta anos do século, a evolução social, embora não se tenha traduzido pelo desaparecimento de classes de base económica, tem conduzido, ao aumento numerário da classe média e até à uniformização da indumentária das pessoas, o que simboliza a instalação na consciência social de tendências igualitárias. No período que antecedeu a primeira guerra mundial as diferenças das condições de vida do proletariado, da classe média e das classes superiores eram mais acentuadas, facto que se reflectia na segregação bem marcada que se estabelecia em centros de convívio como, por exemplo, nas sociedades recreativas onde a selecção dos sócios era muito mais rigorosa do que é hoje. Assim, o Club Farense, só admitia proprietários abastecidos, comerciantes importantes e diplomados com cursos superiores, o Grémio Popular de Faro e a Sociedade dos Artistas eram associações das classes inferiores, dos que usavam frequentemente um fato de trabalho. Havia os senhores de colarinho engomado e as senhoras de chapéu; as mulheres do povo usavam um chaile pelos ombros e um lenço na cabeça; as de situação económica um pouco mais desafogada usavam mantilha.
No nosso tempo, as condições residenciais das pessoas continuam a depender da sua posição económica e não apenas do número de componentes familiares e do tipo de trabalho social que estes executam. Com mais forte razão, nos princípios do século a estrutura das moradias e suas condições higiénicas eram o equivalente da acentuada diferenciação social.
Nos primeiros decénios do século, eram raros os prédios de dois andares. Na zona baixa, como já disse, havia muitos de primeiro andar, embora entre estes houvesse casas térreas, tal como sucedia na Rua Direita (conselheiro Bívar, na da Cadeia (Filipe Alistão) e a até na de Santo António. As habitações térreas nem sempre eram muito pequenas: algumas chegavam a ter, além da cozinha, mais três ou quatro divisões. Uma moradia deste último tipo custava a renda mensal de quinze tostões (1500 réis) aproximadamente. Se nos lembrarmos que no tempo da Monarquia e primeiros anos da República o salário diário de um trabalhador variava entre 250 e 350 réis, chega-se à conclusão de que para o pagamento da renda de moradia eram precisos cinco dias de trabalho, mais ou menos. Os que viviam de trabalho acidental, tinham de morar em casas mais pequenas e portanto mais baratas.
Os proventos familiares derivam do trabalho do chefe de família, pois só as mulheres de famílias de recursos muito débeis trabalhavam fora de casa em serviços remunerados.
 Tal situação da mulher constituía um ideal de vida e o trabalho fora de casa era um signo de inferioridade. No entanto a partir do fim do primeiro decénio do século os velhos ideais do viver familiar entram em declínio: as raparigas, embora em pequeno número, começaram a frequentar os liceu, e desde anteriormente as escolas do magistério primário.
O trabalho doméstico, nas classes intermédias, era, frequentemente, auxiliado por uma “criada de servir”. As classes superiores utilizavam várias. Tratava-se de um pessoal de trabalho mal remunerado, sem horário de prestação de serviços, sem férias e, muitas vezes, mal instalado nas casas dos respectivos patrões.
                                                      

José Neves

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